Isso é tudo o que existe?


Traduzido de: Is This All there Is?
Olhe a sua volta. O que você vê? O que ouve? Você já se perguntou se existe algo lá fora que não possa ser detectado por seus cinco sentidos? Talvez existam outros mundos e criaturas dentro do espaço que você não percebe - mundos que são invisíveis e irreconhecíveis do nosso ponto de vista.

Para um Cabalista, nós vivemos na escuridão, incapazes de ver a realidade superior, mesmo que ela esteja lá. Desconhecendo qualquer outra, tomamos essa visão do mundo como a única realidade possível. Porém, considere a Cabala como uma forma de iluminar toda a realidade, de modo que seja fácil percebê-la. Quando isso acontece, e nós a aceitamos, a nossa percepção da realidade se transforma. Não conseguimos mais agir da mesma maneira que antes, quando estávamos na escuridão, e isso serve tanto para o nosso beneficio quanto para os demais.

ALÉM DOS CINCO SENTIDOS

Você nunca se sentiu estranho porque sua mão tem apenas cinco dedos? Provavelmente não. Embora possamos expandir o alcance da percepção de nossos cinco sentidos, não conseguimos realmente imaginar quais são as percepções que nos faltam. É impossível reconhecer a verdadeira realidade, porque não é algo que sentimos falta, do mesmo modo que não sentimos falta de um sexto dedo.

Como a imaginação é um produto de nossos cinco sentidos, nós nunca poderemos vislumbrar um objeto ou criatura que não seja conhecido. Pense no mais criativo dos livros infantis ou na maioria dos artistas abstratos que você conhece. Será que seus desenhos se parecem com coisas que existem no mundo físico? Experimente imaginar a coisa mais esquisita; mesmo assim, você terá criado algo já conhecido ou algo que decifrou de sua realidade quotidiana.
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Centelhas Espirituais

Os cinco sentidos e a nossa imaginação só nos oferecem a revelação das ações da Essência, mas não a Essência em si. Por exemplo, o sentido da visão nos oferece somente imagens refletidas da Essência visível, conforme elas são formadas em oposição à luz.- Rav. Yehuda Ashlag, Prefácio ao Livro do Zohar
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A transcendência dos cinco sentidos não acontece literalmente. É mais uma maneira de se descrever um nível de percepção superior, onde entendemos a interligação de todas as coisas, e o nosso lugar nessa realidade interligada.

É possível que eu e você recebamos muitas sensações dos objetos externos. Mas, como os nossos sentidos não possuem as mesmas qualidades daqueles objetos, nós não os percebemos. Só percebemos a parte do objeto que se parece com as qualidades que já possuímos. Para termos uma percepção completa das coisas, devemos primeiro estar interiormente completos. Em outras palavras, precisamos estar cientes de todas as formas de realidade que existem em nós; assim, a nossa imagem da realidade será completa.

Então, como alcançamos o sexto sentido, que aumenta nossa percepção para além da realidade convencional? Na verdade, ele existe em todos nós, mas está oculto. Você se lembra da intenção no capitulo anterior? Com ela, podemos ativar esse sentido adormecido, torná-lo ativo. Com persistência e estudo, começamos a adquirir a percepção do mundo do Criador – o mundo da doação. Na Cabala, esse mundo é chamado de “Mundo Superior”. Através do estudo e do desenvolvimento do sexto sentido, começamos a sentir e a entender o Mundo Superior de forma gradual.
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Centelhas Espirituais

Portanto, você deve entender e perceber que todos os nomes e denominações, todos os mundos, Superior e Inferior, são uma Luz Simples, Una e Unificada. No Criador, a expansão da Luz, o Pensamento, a Operação, o Operador, e tudo aquilo que o coração pode pensar e contemplar são a mesma coisa.—Rabino Yehuda Ashlag, O Estudo das dez Sefirot
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DO OUTRO LADO DA BARREIRA

A percepção do Mundo Superior varia de acordo com nosso estado espiritual. Inicialmente, não conseguimos perceber o Mundo Superior, porque nossas qualidades são opostas às do Criador. Em tal estado, só conseguimos perceber o mundo material em que vivemos, e tudo aquilo que imaginamos ser o mundo superior é apenas invenção da nossa imaginação.

Mas, tão logo adquirimos a primeira qualidade espiritual, a primeira porção de altruísmo, conquistamos também a capacidade de perceber o mundo espiritual tal como ele realmente é. Os Cabalistas chamam isso de: “atravessar a barreira”. Uma vez que atravessamos a barreira, podemos avançar até sem professor, porque nesse estado estamos sob a orientação do Criador. Ainda assim, na maioria dos casos, os Cabalistas continuam estudando com um professor, mesmo depois de atravessarem a barreira. Porém, a relação com o professor muda drasticamente: o professor não precisa mais conduzir o cego pela mão, mas ambos andam juntos, lado a lado, num maravilhoso caminho de descoberta.

Depois da barreira, a pessoa aprende com sua própria alma, através da observação dela, e da relação desta com o Criador. Para compreender esse processo de aprendizagem, lembremos da audição. O mecanismo da escuta reage a certa pressão de fora, trabalhando da mesma maneira que a pressão, mas em direção oposta, pressionando de dentro. Dessa maneira, ela se mantém em equilíbrio, permitindo-nos medir, nesse caso, o volume e o grau de um som. Mas, eis a dificuldade: para que ocorra esse tipo de percepção, deve haver algum elemento de união entre aquele que percebe e o objeto de percepção. No caso da nossa escuta, é o tímpano.

Porém, qual é a força de união que pode ligar nossa percepção ao Criador? Talvez o que precisemos seja um “tímpano espiritual”, que tivesse a mesma qualidade daquela dada pelo Criador? Bem, esse “tímpano“ existe: é a intenção, introduzida no Capítulo 2. Tudo aquilo que fizermos com a intenção de dar, é considerado “dar” na espiritualidade. O problema é percebermos quando a nossa intenção é para receber, e transformá-la numa intenção de dar. Mais detalhes de como fazer isso serão dados no Capítulo 12: Estudando Cabala.

A ÚNICA REALIDADE ESTÁ DENTRO DE NÓS

A nossa compreensão daquilo que sentimos está baseada nos genes que herdamos, em nossas experiências, nossa socialização, e no que aprendemos. É tudo totalmente subjetivo. Independentemente do que os nossos sentidos captem, o que eventualmente entendemos e a forma como agimos é muito pessoal.

Por exemplo, se fossemos surdos, não haveria sons a nossa volta? Não haveria música e o som de aviões a jato rugindo sobre nossas cabeças? Será que os pássaros deixariam de cantar só porque não podemos ouví-los? Para nós, sim. Não há como descrever para um surdo o som de um rouxinol. Além disso, duas pessoas não têm a mesma experiência quando ouvem o mesmo som.

Tudo aquilo que você e eu acreditamos existir fora de nós são, na realidade, experiências sentidas dentro de nós. Nós não temos como dizer como elas realmente são por si mesmas. Portanto, quando pensamos sobre a realidade, estamos de fato pensando naquilo que vemos objetivamente, através das lentes de nossa própria percepção.

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