Ver Com A Alma

Há muito mais a ser percebido do que os olhos vêem.
por Keren Applebaum

Artigo do Jornal Kabbalah Hoje

Nos anos 60. o Professor Paul Bach-y-Rita revolucionou o campo da neurobiologia e reabilitação introduzindo o conceito de substituição sensorial. Explorando a plasticidade do cérebro ou a habilidade de adaptação, ele dotou pacientes cegos com a capacidade de usar o sentido do tacto na obtenção de informação ambiental normalmente percebida pela visão. Um eletrodo colocado na língua do paciente foi utilizado para transmitir estímulos externos para o cérebro, que traduziu o estímulo táctil em estímulos visuais, capacitando o paciente cego a “ver”.

O segredo por trás desta aparentemente fantástica operação pode ser resumido nas famosas palavras de Bach-y-Rita: “Nós vemos com o nosso cérebro e não com os nossos olhos”. Com base nesta convicção ele foi o pioneiro no campo das pesquisas sobre como ajudar os deficientes a compensar a perda de facilidades sensoriais danificadas usando os sentidos funcionais remanescentes. Dito simplesmente, ele avançou a idéia que nossos sentidos são intercambiáveis.

Esta linha de raciocínio é suportada por outros dados, como o efeito Mc Gurk, mostrando que nossa compreensão da fala é uma combinação de informações visuais e auditivas. Em outras palavras, nossa percepção visual é parcialmente responsável pelo que ouvimos, sugerindo que nosso cérebro algumas vezes interpreta a informação visual como auditiva. Outras experiências em curso examinam o papel da visão na percepção de odores (imagine ver um filé delicioso quando você está resfriado e não consegue sentir nenhum odor; sua boca mesmo assim se encherá de água do “aroma delicioso” do que você vê).

Alem disso, foram identificados muitos indivíduos com habilidades “especiais” que também justificam a noção de que a nossa percepção sensorial não seja tão apoiada em nossos sentidos como imaginamos. Um exemplo famoso é o de Rosa Kuleshova, que foi capaz de ler material impresso normalmente e identificar cores apenas com a ponta dos dedos, enquanto seus olhos estavam vendados.

Uma novamaneira de olhar a percepção

A Cabala, a sabedoria que se aprofunda no campo da percepção da realidade – a força geral da natureza – nos diz que os exemplos mencionados acima não são tão surpreendentes. Na verdade, como explicou Baal HaSulam, o grande Cabalista do século XX, cada um de nossos cinco sentidos incorpora todos os demais, significando que cada sentido percebe parcialmente o que os demais sentem. Assim, se uma pessoa perde um dos cinco sentidos, esta perda é parcialmente compensada pelos sentidos remanescentes. Isto não quer dizer que um cego enxergará literalmente, mas que os demais sentidos irão ajudálo a suplantar sua perda fornecendo informações que antes eram entregues pela visão.

Acontece que nós podemos parcialmente “ver, ouvir, cheirar, provar e tocar” com qualquer um dos nossos sentidos. E como prova o exemplo de Rosa Kuleshova, esta habilidade é mais desenvolvida em algumas pessoas (embora no passado, antes que nossos sentidos fossem amortecidos pelo mundo artificial, barulhento inventado pelo homem, todos nós tínhamos estas habilidades).

Então Paul Bach-y-Rita estava certo? Nós “vemos com o nosso cérebro, não com os nossos olhos”? Não é bem assim, porque na realidade há muito mais em nossa percepção. De acordo com a Cabala, se a ciência continuar a pesquisar o campo da percepção, descobrirá que o nosso cérebro é nada mais que um detector, onde ao contrário a percepção não está ocorrendo realmente, mas sim fora do cérebro, em algo chamado o “desejo”. O que é o desejo? É a nossa essência espiritual, sem nenhuma relação com o nosso corpo físico e que existe completamente fora da matéria corporal. É aí que acontece a nossa percepção – em nosso desejo, também chamado nossa “alma”.

Percepção infinita

Mas ainda há mais. Acontece que tudo o que percebemos “com nossos cinco sentidos” – o grande mundo que vemos (e ouvimos e tocamos e cheiramos e provamos) ao nosso redor – é apenas um porção mínima do que somos capazes de perceber. Embora percebamos todas estas coisas com a nossa essência não-física, a alma, somente alcançamos a parte menor, mais externa de tudo. É como um “nível básico” da percepção que nos permite perceber o mundo físico e sustentar a existência física de nossos corpos.

Entretanto este novo sentido tem um potencial infinitamente maior: como ele é encontrado alem da realidade corporal, ele pode perceber uma riqueza infinita de “cores, sons, sabores e sensações” espirituais. Para isto, entretanto, precisamos desenvolver este sentido espiritual latente que já está em nosso interior. Assim, em adição ao “nível básico” de percepção da nossa realidade atual, continuaremos a revelar maiores camadas da realidade espiritual mais “externa”, alcançando partes mais elevadas do nosso órgão sensorial real – a alma.

Então, como podemos fazer isto? Como podemos perceber esta realidade “superior”? Podemos simplesmente mudando a nossa abordagem ou nossa atitude com relação à vida. A Cabala explica que na realidade, nada muda fora de nós. A única coisa que muda somos nós. Percebemos a influência constante e imutável da força geral da natureza, uma força que deseja nos dar prazer; mas a percebemos dentro dos nossos desejos continuamente em mudança.

O grau de similaridade dos nossos desejos com esta força da natureza é que representa – dentro de nós – a figura sempre mutante do mundo “externo”. Em outras palavras, quanto mais nos assemelharmos à força da natureza, amando e doando para os outros, mais sentiremos esta força e experimentaremos uma realidade mais rica e ampla. Mas, enquanto nossos desejos e atitudes forem opostos à esta força (egoístas) a única realidade que experimentaremos será esta, sentida pela maioria das pessoas no mundo.

Conclui-se que a percepção não está realmente ocorrendo em nossos sentidos físicos ou no cérebro. Isto porque uma pessoa pode não ter olhos, mas mesmo assim ser capaz de enxergar, como demonstraram as últimas experiências científicas. Então porque temos olhos? Para ter a ilusão que algo está em nossa frente! Isto ajuda a construir nossa realidade como “eu” e “algo fora de mim”, porque assim somos capazes de interagir com nosso ambiente e pesquisar a “realidade externa”.

E finalmente, a pergunta mais importante: O que se sente ao perceber a força da natureza? Os Cabalistas que já alcançaram todo o domínio espiritual dizem que isto dificilmente pode ser traduzido em nossa linguagem comum, que é destinada a descrever os objetos físicos ao nosso redor. Entretanto, para uma aproximação grosseira, dizem que a percepção pelas partes mais elevadas de nossa alma pode ser sugerida pela mais ampla interpretação imaginável das palavras “eternidade, infinito e perfeição”.


Kabbalah Hoje nº 20 pág. 03

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